EXCLUSIVO: Entrevista com Teresa Ribeiro, a tradutora de Supernatural da RTP2

Falámos com a simpáctica tradutora da nossa série favorita e ela respondeu às nossas perguntas sobre Supernatural. Para além de muitas coisas interessantes, descobrimos que Supernatural para ela não é só trabalho, ela também é fã!! Obrigada Teresa pela sua disponibilidade e simpatia.

Clica abaixo para leres a entrevista!

1.        Desde quando é responsável pela tradução e legendas da série, e qual foi a sua primeira impressão sobre Supernatural?

- O primeiro episódio da primeira temporada de Supernatural veio parar-me às mãos em Abril de 2007. Foi nessa altura que a RTP2 começou a transmitir a série. Logo, acompanho Supernatural desde o início e a minha primeira impressão foi que era uma série gira, que certamente iria agradar a um público jovem e pouco mais. Mas depressa mudei de opinião. Passei a achar que a série tinha tudo para agradar a um público mais vasto e mais exigente.

2.        Para legendar a série  realiza algum tipo de pesquisa focada na base mitológica em que a série é escrita? Se sim, como é essa pesquisa?

- Obviamente, tento encontrar o equivalente em português (quando existe) de termos como Wendigo, Blood Mary, Hook Man, Shtriga, Grim Reaper, Djinn, Changeling, Shapeshifter, etc.. Ou seja, os seres e criaturas sobrenaturais que foram surgindo ao longo da série. Faço-o pesquisando na Internet e recorrendo a conhecimentos anteriores. Na maioria das vezes, os nomes mantêm-se no inglês original, outros têm tradução óbvia, mas também já cheguei a “inventar” nomes. Um exemplo é o de “shapeshifter”, que transformei em “transfigurador”, para que o sentido fosse mais claro para os telespectadores.

3.        Quanto tempo demora em média, a traduzir e a preparar as legendas para um episódio?

- O processo de tradução e legendagem tem várias etapas. A saber:

Primeiro visualizo o episódio e faço a divisão das legendas no guião que é fornecido juntamente com a VHS. Depois é a vez da tradução propriamente dita.

Uma vez efectuada a tradução, costumo imprimir as legendas e tornar a rever o episódio, para ver se não escapou nada. Finalmente, corrigidos possíveis erros, passo à legendagem. Ou seja, preciso de dois dias, três no máximo, para cada episódio.

4.        Resiste à tentação de procurar informação sobre episódios posteriores da série na Internet à medida que novo material lhe é entregue para traduzir e legendar?

- Resisto, porque embora saiba que essa informação está disponível, como tenho sido eu a responsável pela tradução e legendagem da série, suponho que continuarei a sê-lo e acabaria por perder a graça saber com antecedência o que vai acontecer.

5.        É fã da série ou uma espectadora da mesma? Se sim, o que a leva a assistir?

- Sou fã da série e espectadora da mesma. Sempre gostei da temática. Tenho toda a colecção dos livros de Stephen King e, embora não tenha que ver directamente com o Supernatural, não deixa de demonstrar a minha “queda” para o sobrenatural.

Acabo por ver cada episódio quatro vezes. Quando visualizo pela primeira vez para dividir as legendas, quando revejo para ver se a tradução está completa, quando legendo e quando passa na RTP2. Só sou verdadeiramente espectadora nesta última situação. E, por vezes, como espectadora também sou crítica e deparo-me com pormenores que preferia ter traduzido de outra forma. Mas, tarde demais… De resto, sou também espectadora porque, pura e simplesmente, gosto da série.

6.        Se tivesse que definir Supernatural a uma pessoa que nunca tenha assistido à série, que lhe diria?

- Dir-lhe-ia que é uma série que, tal como o nome indica, tem uma temática sobrenatural (salvo raras excepções, como os episódios “The Benders” e “Family Remains”), cheia de acção, de sangue (para quem gosta), mas também muito emocionante (pela relação entre os dois irmãos), divertida e jovem.

7.        Qual o episódio mais divertido e o mais emocional que se lembra de ter traduzido e legendado?

- Não tenho um favorito em ambos os casos, mas “Bad Day at Black Rock”, “Mystery Spot” (ambos da temporada 3) e “Yellow Fever” (da temporada 4) são, sem dúvida, muito divertidos. Os mais emocionais, na minha opinião, foram “Faith” (da temporada 1), os últimos das temporadas 2 e 3 (“All Hell Breaks Loose 2” e “No Rest for the Wicked”, respectivamente), “A Very Supernatural Christmas” (temporada 3)  e “On the Head of a Pin” e “When the Levee Breaks” (temporada 4).

8.        Caso tenha assistido às outras temporadas da série, qual foi a sua favorita até agora e porquê?

- Sinceramente, não sei dizer. Gostei da primeira pela novidade e variedade de temas, gostei da segunda também pela variedade temática e pela entrada de John em cena, mas também gostei muito da terceira e da quarta, que se foram tornando nitidamente mais violentas e adultas e que se centraram mais no problema do sangue demoníaco de Sam e da caça à Lilith.

9.        Há alguma lenda urbana que gostasse de ver retratada em Supernatural?

- Para ser franca, as lendas urbanas de que tenho conhecimento e que têm algo de sobrenatural já foram todas mais ou menos retratadas em Supernatural.

10.    Sente que acompanhou o crescimento das personagens principais Sam e Dean? Se sim o que acha que mudou mais em cada um deles (o bom e o mau)?

- Costumo dizer, por brincadeira, que me sinto um pouco a mãe daqueles rapazes, pois acompanho-os desde o início. No que diz respeito ao Sam, devido ao sangue demoníaco tornou-se, obviamente, mais obcecado e teimoso, perdendo um pouco do bom senso que sempre teve. Quanto ao Dean, tornou-se mais responsável e adulto, na sua tentativa de salvar o irmão, mas também mais amargurado e cínico, devido à sua passagem pelo Inferno. Contudo, há que dizer que continuam ambos adoráveis.

11.    A série tem maioritariamente personagens masculinas mas, como mulher, qual é na sua opinião a mulher mais forte de todas as que já passaram na série, e porquê?

- É uma pergunta complicada, pois embora tenham passado já muitas mulheres pela série, as que ficam retidas na lembrança são as “más da fita”, a saber: Meg, Bela, Ruby. São, sem dúvida, personagens fortes, mas também tivemos a Ellen e a Jo e, sobretudo, a Pamela que, a meu ver, será porventura a mais forte de todas, por oposição a Anna, que talvez devido ao seu carácter angélico, não deixa de ser um pouco apagada.

12.    Tem alguma personagem favorita ou já teve? Quem e porquê? (Pode considerar uma personagem que ainda esteja na série ou que já tenha participado nela)

- Confesso ter um “fraquinho” pelo Dean, mas no que toca a personagens pontuais, acho imensa graça aos dois cromos dos Ghostfacers e ao ar grave, sério, atormentado do Castiel.

13.    Se pudesse perguntar alguma coisa ao criador da série, Eric Kripke, o que lhe perguntaria?

- Como raio vai conseguir terminar a série de forma a agradar a todos os fãs?

14.    Na sua opinião, qual seria o final perfeito para a série?

- É outra pergunta muito complicada. Como poderão os Winchester algum dia ter descanso? Seria ideal terem-no em vida, mas devido a todo o seu passado, parece-me pouco provável. Aliás, já ficou provado em  “It’s a Terrible Life” que não se adaptam a uma vida normal. Logo, o ideal seria darem cabo dos demónios da pesada e passarem o resto da vida a tratarem de demónios secundários. Mas perderia um pouco a graça. Outra hipótese, talvez mais sobrenatural e, logo, mais apropriada, seria darem cabo de Lúcifer e companhia e terem a recompensa eterna, junto do pai, num lugar melhor, que seria o oposto da experiência de Dean no inferno. Mas aí ficávamos nós a perder, porque seria pouco provável haver uma 6ª temporada.

15.    Supernatural é uma das séries mais vistas na RTP 2  e aparentemente também é uma das que tem mais sucesso em Portugal (sucesso esse que engloba pessoas de várias faixas etárias). A que é que acha que deve o sucesso da série no nosso país?

- Embora actualmente tudo o que meta vampiros esteja a ter grande sucesso, o fenómeno do Supernatural é anterior a esta nova moda. O sucesso terá que ver também com o facto de passar na RTP2, que é, reconhecidamente, um canal de qualidade. Além disso, acredito que também se deverá ao “passa-palavra”. Quem viu no início e gostou, ter-se-á encarregado de convencer outros telespectadores. Finalmente, a própria evolução da série e o facto de se ter tornado mais violenta e pesada, terá chamado a atenção de um público mais adulto. E, obviamente, agora queremos todos saber o que vai acontecer a Sam e Dean.

Para terminar poderia deixar uma palavra aos fãs de Supernatural, portugueses mas também de outros países que visitam o Supernatural Fans Portugal.

Gostaria de dizer que é um prazer e uma honra saber que me lêem todas as semanas e que sou, de certo modo, responsável por compreenderem melhor os Winchester. Quanto ao Supernatural Fans Portugal, dou-vos os parabéns pela qualidade e diversidade do site. Acredito que os fãs de outros países que visitam a página ficam muito mais bem servidos do que se visitassem outras páginas estrangeiras. A vossa página tem muito nível. Continuem assim… e força com a ideia de realizar uma convenção Supernatural em Portugal.